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Altofe

Uma vela na escuridão

 

Uma vela na escuridão

 

Minha vida é a luz de uma vela hesitante,

solitária, e que tenta iluminar em vão

um mundo em que a todo instante

vive na ignorância que cria a escuridão.

 

Desde que nasci em momento tão nobre

luto para minha chama não se apagar.

Armado apenas com essa rima pobre,

observo lentamente a morte se aproximar.

 

No fim da caminhada olho sob o ombro da direita

e vejo Azrael sorrateiramente chegar,

que com paciência me espreita

junto à sombra do meu débil andar.

 

Ostentando a sua temida gadanha,

murmura que ceifará minha luz,  e já com a lâmina erguida,

avisa que com o anjo da morte não se barganha

e que quem não teme a morte não respeita a vida.

 

Vou com passos lentos e com estratégia decidida,

porque o tempo tem pressa de me passar.

Me arrasto pela vida e sei que no fim é só descida

e da morte não se pode escapar.

 

Vivo devagar porque quem tem pressa

nem sempre consegue alcançar,

mesmo sendo o primeiro e que nada o impeça

o fim da vida logo consegue encontrar.

 

Por muitas vezes senti a mão da morte

tocando meu ombro, e talvez por sorte

ou por pura astúcia pude me desvencilhar,

humilhada agora ela aguarda o momento de se vingar.

 

Assim vou andando e por “atalhos” eu sigo

para ficar o mais distante da chegada,

porque a vitória está no durante, apesar do perigo

e jamais no final da jornada.

 

Antes que a chama da vela acabe eu quero saber,

E perguntarei para ver se a morte também saberá

_ Morte, quando meu corpo de cera derreter

para onde a sua luz irá?

 

Quando estiver nos braços da morte

sentido seu hálito fétido da decomposição,

em último ato desejar-lhe-ei sorte,

olhando seus olhos frios e sem alguma emoção

me porei, com razão, a gargalhar.

estarei livre agora e ela será obrigada a ficar.