Certo dia olhei da janela e vi, um homem no relento a dormir.
Seu teto era uma velha lona, a calçada seu chão, companhia nenhuma tinha a não ser a do seu cão.
Comia do que lhe davam, quase sempre do que restavam, e mesmo quando pouca a doação não esquecia do seu cão que junto sempre estava.
Alguns que passavam e olhavam com desprezo, muitos até com medo, mas ele com sorriso os saudavam.
Ao seu lado, livros empilhados, romance, literatura, poesia, com um deles viajava um dia, como quem sonha acordado.
De longe me perguntava, qual seria seu nome, sua história como nesse estado foi chegar? Tinha uma aliança na mão esquerda, será que chegou a se casar?
Como pode um cidadão em enorme solidão, dormir tão sossegado?
Enquanto eu preocupado ao ver o seu estado, no meu canto confortável, a noite inteira acordado.
Levantei e fui ao seu encontro propondo lhe ajudar, com comida e bebida e até um lugar para morar.
Perguntei qual era o livro que lia que tanto o fazia sonhar? Ele disse que era o livro do seu sonho, que acabou de se realizar.
Na janela ainda olhando, continuo meditando em quantos assim estão a sonhar, com um bom samaritano que surgiu para lhe ajudar.
Nas praças e esquinas tentando sobreviver, ainda que eu me inclinasse na janela não seria possível ver.