Ednei Pereira Rodrigues

A solidão prevalece

Agonia de um azul denso

 

Amanhece chovendo

Olhar de soslaio

Ensaio um raio

Atraio papagaios tremendo

Noite glacial

Inércia constante

Silêncio unânime

Estertor visceral

Anil de um vulto

Açoite de rio

A onda desemboca no macio

Meio-dia oculto

O halo no ralo

É mais aprazível neste desnível

Abalo sísmico sem estalo

O Sol conservado em formol Para futura biopsia

Cobaia de experiência

Aquenta sem arrebol

Aquece quando anoitece

Confunde um rouxinol

Desabrocha um girassol

A solidão prevalece

Quando tudo é propenso

Os fantasmas fazem reunião na neblina

O relento me ensina Palavras ocas contra o senso

Desvendo detalhes do cais

Funerais transcendentais

Convenço o suspenso

Quando todos os defuntos parecem sorrir de algo

Apalpo o escalpo

Escapo dos insultos

Testemunha na maca

Morto por uma maça

Antes subtraia maçãs

Inócua não ataca

Agora se sente hostil

Culpada pela morte de alguém

Ninguém intervém

Fóssil sutil

Seu cérebro em putrefação evoluída

Expressa o espesso

Atmosfera densa sem apreço

Primavera suicida

Baixos e altos-relevos

Moldados em gesso

Tundra com tunda no processo

Seu sangue no mangue em sobejos

Ainda posso te ouvir

Seu esqueleto escaleto chora

Cora na aurora

Que consegue te despir.