Rafael Marinho

A fábula do vagalume, da mosca e da estrela

Havia um vagalume na aldeia que queria ser uma mosca. Ficar moscando era sua habilidade natural. Ele era tão tímido que intimidava as paredes a ficar ainda mais paradas. 

O problema é que, dessa vez, ele não podia moscar. Pois tinha sido escolhido para ensinar a nova geração de vagalumes a brilhar. Os anciãos da aldeia o escolheram porque acreditavam em seu potencial. Ele também acreditava bastante no seu potencial. De fazer besteira, é claro. 

Mas o brilho de uma geração dependia dele. Pois os vagalumes tinham uma grande missão na terra. Eles iluminavam aqueles seres humanos que, por algum motivo, não tinham velas, luz elétrica e nem brilhos nos olhos. Se ele falhasse em sua missão, quem iria empoeirar a escuridão deles de luz?

E se não bastasse o professor ser esse banana, ainda havia um aluno que estava disposto a fazer dele uma bela de uma vitamina, tadinho. Esse estudante também não queria ser um vagalume, queria ser promovido a estrela. E, para isso, fazia a maior bagunça nas aulas, ofuscando o brilho dos seus coleguinhas e cegando os olhos de quem lhe dava luz. E some isso ao fato do professor ter medo de mostrar o seu brilho, medo de falhar na tarefa, medo de cegar. A educação vagalumiana se tornou um desastre na certa. Com certeza, os vagalumes entrariam em extinção por causa disso e não sobraria ninguém nem pra escrever a história.

Como era de se esperar, o professor ficou super na bad por causa dessa dificuldade. Mas, graças a Deus, o único final feliz chegou: o final de semana. Então, ele aproveitou o tempo livre para visitar sua família e, enquanto conversava com seu pai, se livrou do que afligia seu coração. Seu pai, um dos anciãos que acreditaram nele, disse: \"Não tenha medo, meu filho, eu vejo suas cores verdadeiras e elas são belas como um arco-íris. Mostre o seu jeito estranhamente lindo, pois a luz não cega ninguém se você brilhar aos poucos\".

Com isso, após essa conversa, o professor sentiu-se encorajado. A partir daquele dia, ele brilhou, costurou o chapéu de professor na cabeça e deu aquela reduzida no brilho do seu aluno com sua autoridade. Dessa maneira, quase todos os alunos puderam aprender a chamar a mesma atenção, da mesma maneira e sem cegar ninguém. Foi assim que impedimos os vagalumes de entrar em extinção e eles continuaram a iluminar os seres humanos, como a luz do seu mundo. Quanto ao professor, ele aprendeu uma bela lição: \"Moscas não podem iluminar corações, vagalumes, sim\".

A história poderia terminar bonitinha aqui, só que eu disse \"quase todos\".  Aquele estudante atentado não gostou nadinha dessa mudança de atitude do professor e decidiu se rebelar contra tudo, contra todos e contra si mesmo. Ele disse: \"Se eu não posso ser uma estrela na sala de aula, vou ser o que eu sempre quis: uma estrela no céu. E aí todo mundo vai ter que me notar\".

Ele queria tanto se sobrepôr aos outros que começou a voar, voar e voar o mais alto que podia até alcançar o céu. Mas nessa ânsia de brilhar demais, o aluno se perdeu da aldeia e seu brilho nunca mais foi visto. Todos vagalumes ficaram arrasados com a notícia de seu sumiço. Mas acredito que o maior arrependimento esteja no coração do aluno, pois ele aprendeu da pior maneira possível a seguinte lição: \"Estrelas são solitárias, vagalumes, não\"

Moral da história:

Se você é um vagalume, não queira ser uma mosca. Ter medo de brilhar pode prejudicar os outros que precisam do seu brilho. Afinal, moscas não podem iluminar corações, vagalumes, sim.

Se você é um vagalume, não queira ser uma estrela. Se você quiser brilhar demais, você vai prejudicar outros e vai terminar brilhando sozinho, pois estrelas são solitárias, vagalumes, não.

- de Rafael Marinho

03/05/2020