Nas dunas do tempo...
Vim...
Caminhei por trilhas flexuosas
Habitei a pobreza cruel, onde, quase todo ser é ignoto...
Vim das vielas de cascalho, das casas sem assoalho
Sobrevivendo a escaladas, das montanhas do medo
Vencidas à força, em segredo...
Vim...
Mesmo tendo pés retorcidos, cobertos pelo pó da estrada
Pó que lhe cobre a alma, impregna na tez, no umbigo
Dele, o barro...
Eclodiam moradas, panelas, tintas e jarros...
Vim caminhando pelas dunas do tempo, árdua jornada
Aprendendo com o mestre, e o silêncio
O deserto da agonia é fértil...
Nas areias do desespero, brotam canteiros
Florescem aí, sempre-vivas e espinheiros...
Vim... creio, por beber na fonte da esperança
Alimentava-me da fé, que no caminho sustém os olhos
A certeza de chegar, ainda que em frangalhos...
Vim, encontrei por fim meu oásis
Nele, cuido de tudo com carinho
Há animais e muitas árvores
Milhares de aves e passarinhos...
Que não necessitem, trilhar igual caminho...
Já não caminho nas dunas do tempo
Observo-as...
Tento ganhar novas formas, como elas...
Ema Machado 30/05/21