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Paulo Roberto Varuzza

Ela ria

A fechadura da comporta da noite,

Abre-a o sol poente,

Que se despede do dia no seu ocaso;

Com a fechadura aberta

A comporta recolhe-se na sua solidão

E a noite pode invadir nossos sentidos

E ser abrigo de ilusões,

Fria e escura mesmo com o brilho de uma lua

De nuvens e de flores nua,

Que nascem em vasos de barro,

Terra e água,

Mas cozido no fogo,

Com a ajuda das mãos,

Todavia os amores perdem-se no escuro da noite

E, se não os encontram os corações,

Vagam à toa pela escuridão,

Manchados com o negrume da noite e camuflados,

Até que, com a luz do dia,

Possam ser achados,

Mas ela ria,

Porque ela só se via,

Andando pelas ruas nas noites sem lua

E o amor dela não era achado,

Porque era manchado pelo escuro

E se escondia, junto com ela,

E só a luz de uma vela acesa,

Roubada de um altar,

Segurada pelas mãos de alguém,

Rompendo as trevas que povoavam o coração dela

Podia os achar,

Mas achados, ele e ela corriam da luz da vela

Até se misturarem com a luz do dia,

Quando tudo se revela

E ela, ainda rindo,

Grita adeus para quem a procura.