A fechadura da comporta da noite,
Abre-a o sol poente,
Que se despede do dia no seu ocaso;
Com a fechadura aberta
A comporta recolhe-se na sua solidão
E a noite pode invadir nossos sentidos
E ser abrigo de ilusões,
Fria e escura mesmo com o brilho de uma lua
De nuvens e de flores nua,
Que nascem em vasos de barro,
Terra e água,
Mas cozido no fogo,
Com a ajuda das mãos,
Todavia os amores perdem-se no escuro da noite
E, se não os encontram os corações,
Vagam à toa pela escuridão,
Manchados com o negrume da noite e camuflados,
Até que, com a luz do dia,
Possam ser achados,
Mas ela ria,
Porque ela só se via,
Andando pelas ruas nas noites sem lua
E o amor dela não era achado,
Porque era manchado pelo escuro
E se escondia, junto com ela,
E só a luz de uma vela acesa,
Roubada de um altar,
Segurada pelas mãos de alguém,
Rompendo as trevas que povoavam o coração dela
Podia os achar,
Mas achados, ele e ela corriam da luz da vela
Até se misturarem com a luz do dia,
Quando tudo se revela
E ela, ainda rindo,
Grita adeus para quem a procura.