Quando eu era criança
Já comecei a sonhar;
Em estudar e me formar!
E talvez em lugar qualquer
Um bom emprego arranjar...
Com meu primeiro Dinheirinho
Meu Sonho realizar e comprar,
Uma linda Camisa de Volta a Mundo
E um Par de Sapatos Vulcabras!
O Tecido de Volta ao Mundo
Fininho e fácil de ser trabalhado
Por todo rapaz que se presasse
Sim, o danado era usado!
Quem não possuía uma Camisa daquelas
Andava bastante encabulado!
E para adquirir aquelas belezuras
Pelos outros era zoado.
Ah! e o Sapato Vulcabras!
Naquela época parece que era
Ainda mais bonito do que agora!
Ficava certa tristeza em quem não usava.
Quem com esse traje se trajava
Em qualquer lugar que chegava
Afirmo-lhe, namorada, logo arranjava.
Naquele Sertão querido
Onde Água era bem escassa,
Ou se vivia na grande Poeira
Sem ter medo nem mesmo da Morte,
Ou quando chovia, encrencado
Num lamaçal muito forte.
E essa chuvarada só chegava
Trazida pelos ventos do Norte.
Minha mãe com tantos filhos
Como teria tempo de cuidar,
De Tecidos muito grossos?
Ela perdia tempo demais
Só pra lavar, depois engomar...
Camisa de Volta ao Mundo seria diferente!
Quanta facilidade, não era?
Eu mesmo poderia me ajeitar.
Mas seu moço é de dá pena e dó.
Com o tempo eu ia crescendo;
Quase que num sofrimento só...
Um ano na Escola e outro não
Sentia meu Sonho longe ficando!
E aquilo me cortava o coração
A possibilidade da realização do meu Sonho
De mim cada vez mais se afastando.
Mesmo antes de me formar
Já consegui trabalhar;
Mas meu sonho, nada de se realizar.
Com os anos passando, as coisas se mudando
E outros Tecidos e outros Sapatos
Foram logo aparecendo;
E assim do meu Sonho
Já iria me esquecendo.
A Camisa de Volta ao Mundo;
Que ironia, bem pouco usei
E o Sapato Vulcabras!
Ummm! Eu bem sei,
Para meus Pés estou devendo.