ONTEM FAZ O HOJE
Antes, eu caminhava
E as estradas nao tinham curvas
O silêncio me aborrecia
E eu só queria a intensidade das paixões.
E o delírio era suficiente.
Delirar era a façanha
Que o meu corpo buscava
E buscava forte.
Viver era lúdico.
Tudo era noite
Tudo era álcool
E o éter era o perfume mais consumido
Ah! Noites compulsivas!
Decisivas!
Hoje sou a calma de uma garça
Sou a nuvem que passa
As rugas me deram
A leveza do vôo das gaivotas
A fortaleza do vôo dos falcões
O olho das linces
E a retina das pombas.
Não me importa o desejo
Não me aflige
A ausência
Das espectativas carnais
E dos espectros viscerais
Nas lutas corporais.
Hoje, só a brisa
Só lição
Só a calma
Da alma
De um corpo enrugado
Que o tempo não venceu
Nem consumiu
Mas ensinou
Que o ontem e o hoje
Existem
Não nos extingue
Não nos anula
Mesmo mostrando
Que a imagem do espelho não é a mesma
Pois o ontem era caule, folha, flor
Mas hoje é o solo,a raiz, a semente.