Eu resido no detentor
Do maior resíduo de índices de ódio
Índices mórbidos de óbitos
De pessoas não-hétero
De pessoas não-cis
Sobretudo, de pessoas não-cis
Sobre tudo que poderia causar-lhes a morte
Entre tudo que poderia trazer-nos a má sorte
Em cores de sangue nossa bandeira listrar
Poderíamos muito bem listar
A ausência de um sistema de saúde
Que com decência nos ajude
Mas não!
Por mais que pareça fora de órbita,
Falaria da falta de oportunidades óbvias
Mas não!
Diria sobre carregar quase como adorno
As pungentes marcas do abandono
Mas não!
Ousaria dizer que a morte nada bem-vinda
Bem, é vinda por não vivermos uma vida bem linda
Mas não!
Poderia ser um desses motivos, qualquer
Mas se não é, qual que é?
Homicídio
(E também suicídio)
Como? Por quê? E até quando
A alguns vai incomodar tanto
A expressão da sexualidade alheia?
A expressão de gênero alheia?
A vida alheia?
A ponto de ceifar a vida alheia?
Isto não pode mais ser muda fala
Precisamos falar sobre esse elefante na sala
Sobre esses animais que nos calam
Porque, apesar de tanta luta,
Há pesar no nosso luto
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