VIDA DE CABOCLO
Seu doutor!
Eu sou um caboclo da roça
Tenho a palma da mão grossa
E os pés cheios de calos
Ando a cavalo
Montado em meu alazão.
Levanto logo que amanhece
Para Deus rezo uma prece
Pedindo a sua Proteção
O sol a pele me aquece
Quando estou na plantação.
O pão que vai para a sua mesa
Não cresce sozinho na natureza
Ele passa po minhas mãos.
O senhor vive folgado
Morando em apartamentos
Não sabe do meu sofrimento
Agui no meu roçado.
Tiro leite do gado
Quebro lenhas pro fogão
Cuido do porco bem cervado
Para a minha alimentação.
Quando chega tardezinha
Volto para o meu lar
É apenas uma choupanazinha
Mas lugar, melhor não há.
Vivo muito feliz
No meu querido torrão
Aqui eu tenho o que sempre quiz
No meu pedaço de chão.
Planto feijão,mandioca e milho
Agui não me falta nada
Tenho um bando de filhos
E uma mulher amada.
Quando a vida sai dos trilhos
Eu clamo por meu Padim
No rosto me volta o brilho
E vejo que não é o fim.
Aí vem o inverno
Nas bandas do meu sertão
Eu compro até um terno
Para festejar São João.
Vou com a familia a capela
Pronto para agradecer
Acendo um monte de velas
Iluminando o meu viver.
Lá encontro os migos
Sorrindo de alegria
Com o inverno se foi o castigo
Acabou a nossa agonia.
Com certeza este ano
Vai ter festa em todo lugar
Tristeza não está em nossos planos
Nós vamos é festejar.
Eu convido o senhor
A visitar o sertão
Não vai faltar pro doutor
comidas de montão.
Nós mata uma galinha
Ou inté mesmo um carneiro
Um cervado capão
Ou um porco do chiqueiro.
Da roça tem milho, feijão
Abobóra e tambem jerimum
se isso não der então
Nós mata até um perú.
Comida não vai faltar
Para a familia e vósmicê
Pode ir nos visitar
Para mim será um prazer.
Aberta está a porta
Da casa para lhe receber
Lá a gente não se importa
Foi bom lhe conhecer.