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Vilk Andrade

Se eu acordasse sem memória!

Se por um dia desses, como por um milagre, eu alcançasse a graça que muitos pedem e esquecesse o que passou.
Não por amnésia ou doença do tipo, mas acordar em um belo dia e não se lembrar de nada, estar inocente feito uma criança onde oque só se sabe é brincar, como um pássaro livre a voar.
Estaria livre de passados prisioneiros, que por muito tempo me manteve refém em memórias que encarcera meu presente.
Ficaria isento de lembranças cruéis, magoas nocivas, noites de insônias por pesadelos insistentes em me assombrar.
Traria de volta a sensação de primeira vez, em tudo que já experimentei, que com o tempo foi se perdendo se tornando em tediosas rotinas.
Falaria em alto bom som,  para eu mesmo e a todas as cobranças e julgamentos.
Não me lembro!
No entanto, perderia os prazeres e sentimentos bons até aqui sentidos, afetos recebidos, amizades colecionadas e sonhos conquistados. Não saberia por quem sou amado e a quem aprendi amar, estaria como paginas em branco, livre sim, mas em meio a um deserto.
Pensando bem, melhor manter minhas memórias, acordar e sempre lembrar o motivo pelo qual devo me levantar.
Fazer do meu passado uma referência, um rumo, uma direção e não uma prisão. Saber que meus dias remotos são arquitetos do que sou hoje.