Carlos Lucena

A JANELA

A JANELA

O sol abre as asas sob o céu
Nuvens brancas e aladas
Se movimentam em carrossel
E eu da minha janela
Vejo o tempo passar
Passa nuvem
Passa o bem-ti-vi a cantar
E vejo o fio de alta tensão
E as andorinhas
Me tiram a tensão
E a atenção
Pela perfilada perfeição
Em que se põem enfileiradas.
Passa carroceiro
Passa motoqueiro
Passa o padeiro.
Passa o roceiro
Com a sua caneta enorme no ombro
Olha, tira o chapéu
E me diz:
- meu escritório tá verdinho de feijão
Vou te trazer uma porção.
- Gosta de jerimum?
Vou te trazer algum!
De novo canta o bem-ti-vi
As nuvens carregadas continuam dançando
O sol se esconde... Reaparece
E eu aqui vivendo
Olhando
Quero mais nada
Nada mais me carece
Só quero mesmo ficar nessa janela.