A HORA QUE FOSTE EMBORA
Perdoe-me Senhor! 
A tua graça me basta!
Mas esta segunda-feira 
Pra mim não tem graça 
Abri a cortina e a janela 
do \"quarto\" que era dela 
para o sol entrar...
Mas ele não entrou! Ficou lá fora
Como quem diz que \"nesse agora\" 
Sua fulgente presença 
É tão pequena diante da ausência 
Daquela idosa senhora
Alguns pertences sobre sua cama
Olho-os como uma criança olha
Seus brinquedos sem poder mexer
Como castigo por coisa qualquer 
Melhor seria as palmas que lhe der
Do que o privar da alegria de viver
Abro a porta da cozinha 
Pra atender os cachorrinhos;
Como eles sempre entraram
Demonstrando seus carinhos
Desta vez eu pude perceber
Que passados alguns instantes
Olhavam os cantos 
Procurando por você.
Eu disse à eles: hoje ela não está
Também olhei, e pelo meu olhar
Ali te via, mesmo sem te ver
 Sai lá fora e imóvel na calçada 
Volvi meu rosto olhando para a casa
Janela aberta, a cortina balançava
Era o vento que foi lá dentro ajudar
Teu frágil corpo na janela se achegar
Senti como fosse você que me acenava.
Voltei com passos devagar pelo quintal
Tinha certeza que não era mais igual
E tão sózinho, por certo ia me achar
Tua cadeira de descanso e inclinada
Apoio às costas, assento de almofada,
Sabe que agora fostes, de fato, descansar
O chá e frutas no café de tod\'os dias
Um pano à mão, necessário ou mania
E repetidas eram sempre tuas histórias
São detalhes que teu filho não esquece
Confesso, mãe, por Deus, se eu pudesse
Te buscaria só pra ouvir de novo, agora
A canção que escrevi com antecedência 
Onde sofro pela dor da tua ausência 
Não retrata nem um pouco a dor de agora
Teu relógio quadradinho no armário 
Olho nele, e coincide o mesmo horário 
Querida mãe, do dia que foste embora.