Jucklin Celestino Filho

CAIXA DE PANDORA

Parem a nave avariada. 

Vai se chocar

Contra as nuvens da insensatez. 

Quero descer,

Para que não chegue minha vez

De ser abalroado

Pelo turbilhão 

De dementices e contra-senso. 

Abriram a Caixa de Pandora. 

Os bichos estão soltos agora. 

Corre , Antonieta!

Foge, Catieta!

Cuidado com o capeta!

Vá embora,

Antes que chegue sua hora!

O número de bichos cresce.

Vertiginosamente recrudesce

De forma assustadora,

Apavorando tanta gente,

Num cortejo

De bicharada alucinada ,

Cuja maldade 

Excede a loucuras inauditas,

Num fanatismo exacerbado:

Um, que reza pra cidadão 

Tal morrer,

Graças à opção sexual

Do camarada em questão;

Outro, qual santarrão ,

Travestido de pregador,

Cai de joelhos, roga ao Criador

Para determinado

Prisioneiro continuar encarcerado;

Outros, que volta e meia,

Sorriem da dor alheia;

Outros, bem mais perversos,

Cidadãos do bem,

A gargalharem da desgraça

Daqueles a quem

Reputam inferiores,

E que os quer,

Longe do seu convívio;

Outros mais, bem mais ,

De índole diabólica e sádica,

De ações malditas 

E deletérias,

Que se outorgam racionais,

Da classe do bicho-homem,

Que  regozijam frente 

A alheias dores,

E por cúmulo de crueldade,

Acham graça 

De alguém passar

Necessidades e fome,

Enquanto gastam seus milhões 

Pela vida afora 

Em pândegas colossais.

Tudo isso nos impõe

A um questionamento :

Neste trágico drama,

De proporções gigantes,

O que fazer?

Abriram a Caixa de Pandora,

Num país que assiste

A tudo pasmado!