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Cecilia

Nove de maio

NOVE DE MAIO

 Onde esteve você, amor da minha vida,

ao longo de dez anos ?

 

Só os despojos ficaram conosco.

A casca adorada,   cinzas  perecíveis,

depusemos ritualmente entre as raízes

da árvore  que você amava.

 

Mas, e o alento?   O sopro divino

que animou  sua carne, e o fez ser quem foi?

Não admito que essas bolhas de infinito

se tenham desmanchado no ar,

ou congelado no éter, até o final dos tempos.

 

Procuro você nos traços

de filhos e netos...Eles se parecem,

mas não partilham a mesma essência,

a luz é outra.

 

Nas tábuas do assoalho busco passos,

vozes,  risos entranhados nas paredes...

ecos... aromas fugidios...   Não alcanço sequer

a leve fímbria  da amnésia em que se esconde.

 

 Nada sei da outra margem do  Estige... 

 Nem ouso esperar que, em algum tempo,

ali nos encontremos.

 

  Seria possível, talvez,

se você soubesse que existo...

Amor da minha vida,

você se lembra de mim?