Claudia Casagrande

OVERDOSE

No último vagão

A recordação

Das suas tardes mais frias

Das maiores alegrias

Das luzes que transformavam

As noites em eternos dias.

Da imensidão de gente

Do barulho estridente

Do abraço caloroso

Tornando o gelado quente.

Da contagem regressiva

Da bola que cai de repente

Dá adeus ao velho ano

Traz o outro prontamente.

Da arte em toda parte

Das paradas de Natal

Do exagero de encantos

Da overdose visual.

 

Deixando o último vagão

Sem nenhuma ilusão

De um maior encantamento

Se encontrava deslumbrada

Se encontrava agradecida

Ao dilúvio de afeto

Carinho, delicadeza

Ao abuso de beleza.

Num tempo nem percebido

Estava inebriada

Com toda a neve lançada

Por alguém que a quer bem

Por alguém que já sabia

Que o seu deslumbramento

Seria eternizado

Até o último dia.