Juro que estou tentando me adaptar a essa casa
Tentando conciliar esse caos interno e externo
Faço faxina todos os dias aqui
Mas jogo tudo em meu armário
Então, não demora muito e as coisas voltam
E os problemas se intensificam
Anos e mais anos que me encontro desse jeito
Apenas tentando levar mais um segundo
Mais um dia, mais uma semana, mais um mês...
Lá vem a conta de luz
Tanto faz não pagar, pois já estou acostumado a enxergar tudo cinza
Faz tempos que não há iluminação aqui dentro
Então que diferença faz?
Se fizer frio
Eu pego minhas folhas com poemas velhos
E faço uma fogueira
Quem sabe isso me aqueça?
Da no mesmo
Já que são as palavras que me confortam na maioria das vezes
A conta de água chegou
E água é vida
Não posso deixar essa atrasar
Mesmo que nessa casa a vida não seja tão importante assim.
Ratos sussurram para não pagar
Mas por mais contraditório que seja
Não fico sem água e tento não me render aos ratos
Todos os dias eles sussurram nos meus ouvidos
Parando para olhar a casa de dentro
Parece estar muito vazia
Da até para abrir uma oficina
Falam tanto disso.. esquece
Uma casa escura e vazia
E eu moro aqui tem 20 anos
Isso era diferente um tempo atrás
Não costumava estar tão vazia e escura assim
Mas de tempos pra cá as coisas mudaram
Fui à varanda para olhar a vizinhança
E vi que parece ser verdade o que dizem
O gramado do vizinho parece ser mais verde
Me peguei fazendo o que ninguém deveria fazer
Me peguei comparando as coisas
E na minha visão
Minha casa é muito inferior a qualquer outra
Em todos os sentidos
Então volta aquele pensamento de sempre
Eu deveria demolir a minha casa
Será que é um jeito de me libertar?
Será que assim os ratos ficam quietos?
Será que se eu continuar, a minha casa ainda tem chances de ser uma boa casa?
Só perguntas e mais perguntas
Vou ouvir uma música e tentar dormir
Mas uma coisa eu sei
Preciso urgente de uma mudança