Jucklin Celestino Filho

A ALMA TRISTE DO JARRO (ITABUNA, MARÇO,1979)

Todos os dias ela vinha 

Sorridente e toda prosa,

E depositava flores no jarro 

Disposto na mesinha da sala

Do casebre amarelo. 

Eu via o artefato de barro,

Sorrir de contentamento

 À carícia daquelas

Mãos tão delicadas!

 

Passou o tempo. Levou nas asas 

Do vento toda a fantasia. 

Quebrou-se o encanto de tudo.

Até os pássaros quedaram-se

Ante tanta melancolia. 

É que foi embora a bela Renilda,

A nossa encantadora princesa,

Um príncipe malvado a levou.

 

Choraram de tristeza as rosas,

Os lírios também choraram,

De dores padeceu o jarro,

E  esse  pobre  poeta,

Que tantos versos à linda dedicou,

Emudeceu, partido de dor.

E meu dolente canto se fez ouvir:

Adeus, rosas do campo!

Adeus, flores da primavera!

Adeus, amores e sonhos!

Se foi a bela Renilda. 

Nem esperou meu adeus!

 

Eu me disse contristado:

Que dor, que tormento ,

Ver partido, despedaçado, o jarro!

Aquele jarro,

Simples artefato de barro,

Tem alma, as flores

Que ele guardava também !...

Todas murcharam,

Tombaram com saudade da dona

Daquelas mãos tão delicadas 

Que as conduziam ao jarro,

Nas manhãs risonhas e festeiras !