Tales Vieira

primeira cena

adentramos prédios onde

as pessoas circulam com pressa

o suficiente para  causar 

náuseas em poucos segundos

e você busca pelo apoio 

de alguma parede,

ela não sustenta o seu desamparo

e a sensação de asfixia,

 

pálido, despencando no abismo

que seus próprios olhos indicam

dizem as senhoritas cultas

que passam observando-o

com olhares piedosos

como se tratasse de um bastardo

abandonado em uma pátria

que não o pertence 

 

as pessoas se movimentam com pressa como se tratasse

de uma estação de trem lotada 

folhas espalhadas pelo chão pisoteadas

com a marca dos calçados de homens de negócios

e em uma delas o seu nome, bastardo poeta!

se trata dos seus escritos, furtados por 

pivetes malandros que fumam cachimbos

de seus pais e correm atrás dos retraídos

seus escritos, bastardo poeta!

sendo rasgados pelos pivetes

que sorriem exibindo seus dentes

amarelados pelo tabaco

enquanto você desperta

inundado em suor 

na sua cama.