A maior deformidade
Não é a física, é a moral.
É natural
Que sintamos
Alguma piedade
Quando vemos
Alguém prostrado
Na sua imobilidade
Física, graças à doença
Que o acomete,
Contingência da vida
Que não dá, não tira,
Não acrescenta,
Se a pessoa não o merecer.
Triste ver a situação
De alguém
Que para movimenta-se,
Ou realizar
Alguma tarefa,
Vai sempre precisar
Da ajuda de outro outrem,
Coisa que sentimos
Muita compaixão
Pela pessoa em questão
Ter sido acometida
De terrível moléstia
Que imobilizou
Seus movimentos corporais ,
Deixando, entretanto, intacta,
Sua função mental ,
Seu modo peculiar
De agir e de pensar!
Outrossim, sua mente, velozmente
Se move, e pode ser usada
Para a prática da maldade ,
Uma arma letal
Para o alvo a que mira!
A comiseração que sentimos,
Se desfaz num segundo,
Quando o camarada
Ao qual nos referimos,
Ficamos sabendo por atitude
Maquiavélica dele
Que traz no rosto aparência de santo,
E no peito embuçado
Um requinte de crueldade,
Enrustido por gestos
E maneirismos de bom moço,
Capa de sujeito bonzinho
Que compunha como escudo,
Pois seu intimo comanda
O que ele é na realidade:
Um falsário. Um sujeito
Oculto.Homem de duas faces!
Na verdade, cuidado tenha!
Criatura desse naipe
Age qual lobo
Em pele de cordeiro
Ao parecer um coitadinho,
Inofensivo carneirinho
A quem baixa a guarda.
De repente,
O lobo cruel se revela:
Se movimenta mentalmente
Única e exclusivamente
Para praticar
Diabólica patranha,
Tamanha arapuca arquitetada
Em ações cruéis ,
Traiçoeiras e deletérias,
Nos bastidores
Da sua infâmia,
Com o intuito
De a um objetivo torpe chegar:
Quebrar as regras do jogo,
Obter o resultado
Que lhe convenha
E a comandos outros.
Na perversidade constrói
Um infame escopo
Previamente bem trabalhado.
Pífio camarada
Que oculta
Na sombra da iniquidade,
Sua deficiência moral --
Uma deformidade
Em si incrustada,
Doença que corrói
Mas a alma do que o corpo!
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