Alexxandre Martins

BOLETIM MÉDICO

Maria olha pro relógio na parede, suspira fundo e continua a preparar medicação, falta 1 hora pra terminar o plantão de 24 horas. As pernas estão cansadas, olhar embaçado, pálpebras pesadas, está caindo de sono. Caminha pelo enorme corredor daquele hospital frio e sombrio. 23 anos trabalhando no mesmo lugar e nunca tinha passado por um momento tão difícil. Tudo lotado, enfermaria, corredor, quarto, UTI, a fila na porta é enorme. Pessoas se desesperam, ao ver seus entes queridos morrendo na fila de espera. Começa uma massagem cardíaca, insiste bastante, luta, mas é em vão. Perdeu mais um. Um enorme vazio invade a alma, sensação de impotência perante a letalidade do vírus. Vai ao banheiro e sentada no vaso desaba a chorar. Ouve gritos, sirenes, enxuga as lágrimas, ajeita a máscara, as luvas e parte pra guerra novamente.