Eu vivi um tempo
em que o tempo passava moroso
sem o automatismo moderno
de quem rasga os calendários das paredes.
Eu passei por um tempo
que contar os dias era mais gostoso
do que pular as décadas.
Vivia as quatro estações
Ah, que bons tempos.
Quero tempo!
Quero um tempo sem pressa
que respeite a larva e o casulo
que espere o leite ferver.
Sem tantos check-ins.
Sem malas prontas.
Sem furos tortos.
Quero um tempo sem cobrança
sem vencimentos ameaçados
sem filas furadas
sem batidas no carro
sem ‘adeus’ antes da hora.
Quero um tempo tolerante
sem amarras nos ponteiros
sem preconceitos nos olhares
Quero um tempo sem peso.
Leve como areia em ampulheta
que tire sarro do vento
que colha conchinhas na praia
descanse a massa do pão.
Quero um tempo sem impulsos
sem tempo algum
que fuja da obviedade programada dos manuais
e sem gosto de ansiolíticos.
Quero um tempo sem tormento.
Sem dores antes da hora.
Sem infortúnios na minha calçada.
Quero um tempo
que não esqueça de mim
que durma o sono dos justos
que labore o nascer do sol.
Quero tempo.
O tempo é um poeta
que escreve no seu tempo
sem relógio no pulso
apenas papel, caneta e tempo.
Tanto faz segundos ou anos
Todos são filhos da sua eternidade.
Quero apenas o meu tempo.
Ainda há tempo?
Kermerson Dias
@cafeprosabr
@kermersondias