Marcellus Augusto

Um poema que nunca serĂ¡ lido.

Os dias são sombrios

A noite é angustiosa 

A madruga é longa 

São muitos sonhos 

São muitas reflexões 

São várias informações

Inúmeras deduções

E nenhuma resposta. 

A única coisa que sinto é que nada seja real

O mundo externo está distante de mim 

Os afetos acabaram

Não ganho um abraço 

Não sou lembrado 

Não sou amado 

Não recebo mensagens 

Não me perguntam se estou bem 

Não sabem se estou vivo hoje 

Ou se estarei bem amanhã. 

Não tenho forças para falar, 

Ainda que tenha muito para dizer

Não tenho paz nos meus sonhos, 

Alguns pesadelos são mais reais do que a própria realidade, 

Há dias que me pergunto se o mundo real existe, 

Se a minha amada mãe é real

Se o meu pai, meu bom amigo, existe, ainda que com os seus defeitos 

Se o outro que vejo, falo, converso é real, 

Que vive,

Que está ali, 

Que participa do ser, 

Que é criatura de Deus, 

Que chora como choro,

Que respira como respiro,

Que rexiste como rexisto. 

Vejo o mundo,

toco o mundo,

mas não sinto o mundo. 

Talvez seja a minha fase, 

Ela não é boa, 

Parece que estou sem sorte, 

Nada conspira ao meu favor,

Não ganharia um cara ou coroa ainda que escolhesse as duas opções. 

Não tenho nada, mesmo com algumas conquistas,

Almejo alguma coisa sem saber o que é,

E desprezo o que tenho, porque esfriei, 

Durmo esperando sonhar, 

Mas só encontro dúvidas e pesadelos.

Sonho de olhos abertos, porque a realidade é dura, 

Pergunto a Deus se não estou sendo egoísta, 

Pois existem pessoas que vivem numa situação pior, 

Algumas nos hospitais, 

Outras enterrando os entes queridos,

Outras lutando pelas suas vidas, 

Outras lutando por um prato de comida, 

Enquanto eu não sei pelo que devo lutar, 

Enquanto sou um homem cheio de dúvidas, 

Que dúvida da própria existência, 

Que dúvida de si, 

Que dúvida de outro, 

Que dúvida de tudo. 

A única coisa que eu desejo é que o mundo seja real, 

Que a existência seja boa, 

Que ela possa me proporcionar bons momentos, 

Que eu possa encontrar um sentido, 

Que eu possa passar de perdido para peregrino, 

Que eu possa parar de sonhar de olhos abertos, 

Que eu possa realizar, 

Que eu possa parar de inventar mil personagens e ser quem sou, 

Aceitar-me,

Abraçar-me,

E seguir o meu caminho.