LUZ DA ESTAÇÃO
Luz do dia que clareia as noites dos dias meus...
que outrora vivera em demasia de desejos, de fantasias... rias...
para acalantar um coração que é todo teu...
Um único dia para suprir todos os outros dali em diante,
não muito distante, passei a contemplar o além-mar: ar puro...
possibilidades;
expectativas;
esperanças;
não muito obstantes frustradas,
contudo, recuperadas pelos raios luminosos
que partiam dela... luz de uma estação fria...
Ali...
sei lá!
Fiquei meio ofuscado e não consegui buscar da fonte a sua origem,
Mas, dela fui abundado de satisfações, alegrias e felicidades
tão diversas que nem sequer perfilá-las eu pude, nem tentei!
Pois, sei que “nada sei”;
sei que “nada posso mudar”;
e que, se pudesse, talvez, nem mudaria... mudaria...
mudaria, mas sem toscanejar um só instante;
depois largaria tudo numa estante para todos que,
passando por ela e vendo-a, viessem a tê-la,
ao menos, em suas cabeças depois de lê-la...
Luz que brilha;
na escuridão de uma passarela;
daquela estação de metrô;
que vai e vem num balançar para o infinito;
lotado de corações sofridos;
de pessoas sonhadoras;
trabalhadoras e guerreiras;
que, de peito aberto, encaram os perigos diários:
e acabam sendo expressadas em palavras de poemas sem fim...
que da vida apenas aguardam;
os seus lugares em alguma sombra;
depois da correria diária;
numa cama sempre tombam;
uma luz solitária brilha;
num território só seu;
e, quando em seu tempo, se apaga;
vai refletir em tudo que lhe aconteceu;
em um dia comum: uma menina solitária sonha;
durante um sono gostoso... todo seu;
que nos tempos em que se pega acordada;
passa a refletir em tudo que lhe sucedeu;
menina crescida, solitária, busca;
durante seus dias um lugar só seu;
enquanto arruma a sua mala;
pensando em partir sem sequer dizer um \"adeus\";
e vai em direção à estação da luz que revigora vidas,
quando alguém para ela olha:
ela vai para somar às tantas outras
que no metrô imploram: cantam; conversam; lamentam e choram...
alguém naquele meio:
fala da luz que na estação viu;
fala dos sonhos que sempre sonhou;
ela de mala arrumada: solitária, se vai;
sem, ao menos, olhar para trás...
bem que ela poderia tentar encontrar a refração da luz
que a tentou despertar para uma condição diferente
da que a levou a caminhar...
ela passava sempre naquela estação e jamais a percebeu...
Refração: toda a esperança dirigida depois de escolher o meu próprio chão
para pisar firme com meus pés cansados;
caminhando, sigo em solitude tentando ficar sempre posicionado
de uma forma que a luz sempre em mim bata...
Não enxerguei a refração quando estava naquela estação:
a luz estava genuína sempre em direção ao coração;
eu que não a conseguia ver...
talvez, por este motivo ceguei e apenas consegui ver o que mais o meu coração desejava num momento de desilusão: a partida!
Não enxerguei a luz de uma estação, que clareava todo o caminho por onde passei, e em cada um deles eu deixei um pouco dos sonhos que sonhei: desilusões!
depois de tudo fui embora:
me pareci com a menina de outrora,
que sequer um adeus deixou...
falei da luz que na estação eu vi;
falei dos sonhos que sempre sonhei;
sem mala arrumada e com a solitude dentro em mim;
resolvi partir em direção ao além-mar... ar puro...
Refração de uma luz numa estação que só consegui enxergar quando me lancei de corpo e alma para onde jamais pude esperar: jamais havia pensado no que me aconteceu e, depois dali, resolvi partir em direção ao além-mar... ar puro...
Ali...
sei lá!
Pois, sei que “nada sei”;
sei que “nada posso mudar”;
e que, se pudesse, talvez, nem mudaria... mudaria... mudaria...
Encontrei a menina na estação central;
Sentada num banco cheia de sinal:
vergonha; desespero e dor...
com lágrimas nos olhos me chamando de “senhor”...
Sentei ao seu lado...
Até um pouco afastado para má impressão evitar:
ela me abraçou e me disse, chorando, me ensina a voltar pra casa,
por favor, estou lhe implorando...
Me tornei à refração daquela luz da estação:
aquilo que ela deixou de ver;
aquilo que eu deixei passar...
Pude me redimir ajudando-a a retornar;
Ela me ajudou fazendo-me enxergar:
que todos nós temos luz própria;
que todos nós somos carentes de direção;
que todos nós passaremos um dia;
por alguma luz de alguma estação...
e dela teremos a chance
de tudo mudar:
não implorar;
não lamentar e, apenas,
conversar;
sorrir e cantar...
de alegrias;
de felicidades;
sabendo que dali em diante
seremos luz de verdade!