Relembro nesse instante
Os maviosos toques de diversos instrumentos
Que sequer sonharia em tocar um dia
Soletrando as diversas músicas
Daquelas desmedidas diabruras
Praticadas quando criança
Bem no meio de cada festança
Entre um São João e um São Marçal
De brincadeiras com meus compadres
De olho esperto nas comadres
Satisfeito com a noitada
Absorto na empreitada
Brincalhão e solto ao vento
Despertando um sentimento
Saltimbanco de última hora
Mendigando a tua esmola
Os pés insatisfeitos, parados no meu canto
Dentro dos sapatos requerendo um novo encanto
Qual braseiro incandescente
Tornando-me inteiramente desobediente
Na minha mal disfarçada quietice
E naquele olhar atravessado, cheio de esquisitice
Me lembro o quanto temias
Que surgisse um novo dia
E se acabasse a tal magia
Que sempre te fazia minha
Indiscutível amor de todo ano
Fazendo meu coração tornar-se mais humano
E tudo isso eu trazia numa pequena bandeira
Nossas imagens amorosas
Num simples pedaço de pano
E a música seguindo na noite
E a vida seguia dançando
Decerto que a memória não pode jamais faltar
Sob pena dessa parte
Tão linda da vida
Esvanecer nos pensamentos
E pouco a pouco nos deixar.