Marcelo Veloso

A CADEIRA

 

O movimento dá o ritmo

enquanto se espera o exceder

que o coração vai se alimentando,

aí, o descanso é apenas um propósito

de que para o extenuar do cansaço

deve-se acomodar o que está incomodando.

 

E lá no canto da sala, solitária,

tão inerte, à espera da acolhida

se entrega pra quem a queira,

não escolhe o pronto acato

e tampouco se faz oferecida

pela singular razão de ser cadeira.

 

E entre o encosto e o assento

há sempre um elemento

que a toma em apreço.

Não há outro momento

em que tão singelo sentimento

faz da cadeira seu endereço.

 

A cadeira é um espelho

do que somos e fazemos

durante toda a vida,

onde o receber é a partilha

do que construímos e temos

no desidratar da nossa partida.