Roberio Motta

Não sabes a dor de um homem

Não saber a dor de um homem

Ver sua família passar fome

Seu nome já sem sobrenome

Sua sofrida vida com os seus

 

E o tal de louco e mal

que o governa a dor projetou

Traz mais dor e sofrimento

Que só o pobre e seu lamento

Entende o que sofre e já sofreu

 

O pobre comerciante

Deixa de honrar como antes

E seus ombros se estremecem

Vendo o peso da obrigação

Ao ver as duplicatas chegarem

Sofrer sem poder pagar não

 

E o que antes era honra

Vira o caos e a desonra

Em não poder mais trabalhar

 

Vem a fome e o desatino

Os olhos marejados do menino

E o pai em desespero

Sair a pedir caridade

 

O vírus é reimoso

É triste e tem a coroa do mal

Traz morte e clamor

Onde passa deixa seu rastro

Lamento e indignação

 

E o homem acuado e preso

Prisioneiro em sua pobre casa

Se contamina mais veloz

Fazendo da fome seu algoz

 

Lamento da dor e penúria

No canto da casa triste

Cheia dos seus e de fome

Vendo o mal que se consome

Bate na porta sem compaixão

 

Mas o estado é quem gera a dor

O apelo e o adeus

Assim, crie leitos!

Pague bem ao dotô!

Valorize a enfermagem

Crie “ar” e menos dor

 

Faça da história um nome

Com honra sem malversação

Traga de volta os respiradores

Que comprados

Nunca chegaram não

 

Faça a abordagem precoce

Salve vidas! Não diga não!

Pois detrás de cada homem

Há uma família, sonho e gratidão.

 

Não deixe o tempo passar

Gaspeando na contramão

Pois é no tratamento precoce

Que salva vidas sem contestação

 

Senhor governa a dor

Faça seu dever de casa

Use a verba já chegada

Com serenidade e amor

 

Pois o povo dentro de casa

Morre mais rápido, só e com imensa dor

E a cada um que se vai

Falta o alento e sobre saudade

 

Se teu louco e mal resolvesse

Estávamos bons e seguros

Salvos e com vida

E tu ainda vens tocar na mesma ferida?

 

Do fique em casa e não saia

Se sair a culpa é sua

Enquanto o dinheirovaga

eterno feito a lua

 

E tu que me diz fique em casa

Nós a espera do feijão

Eu em minha alugada casa

Enquanto tu em sua mansão

 

Minha casa é pequena

Maior é minha esperança

Nos dois cômodos além deu

Tem minha esposa e as crianças

 

Os primos chegaram de São Paulo

A tia com a mudança

Pois na falta de emprego

Um ajuda, outro arrancha

 

Senhor governa a dor

Deixe o palácio e o jato

Venha de carro conhecer cada canto

A cidade, o campo e a dor

 

Visite cada município do estado

Escute e anote o clamor

Do povo que já passa fome

Esperando alívio para sua dor

 

Escute a barriga roncado

A dor da fome do sofredor

E as contas sempre chegando

Sem luz pois esta

Até a Enel já cortou

 

Já vivo louco e mal

E este tal de lockdown

Faz mal, muito mal

Se o mesmo resolvesse

Já tinha passado com a tal primeira onda

 

Lockdown seria bom, mas para os seus

Os meus são muitos e sem sustento

A cada boca sem sorriso

Casa pequena e cheia de lamento

 

Pois na ideia que tu persistes

Perdi emprego e o sossego

Fecharam o comércio

A indústria e a bodega

 

E a justiça inda cega

Quer prender quem sente a dor

Soltando os meliantes

Escravizando com terror.

 

Soldadinho do Ara-Ari-Pe

Treze de Março de Vinte Vinte e Um

Estado de Graça do CARIRI.