Não saber a dor de um homem
Ver sua família passar fome
Seu nome já sem sobrenome
Sua sofrida vida com os seus
E o tal de louco e mal
que o governa a dor projetou
Traz mais dor e sofrimento
Que só o pobre e seu lamento
Entende o que sofre e já sofreu
O pobre comerciante
Deixa de honrar como antes
E seus ombros se estremecem
Vendo o peso da obrigação
Ao ver as duplicatas chegarem
Sofrer sem poder pagar não
E o que antes era honra
Vira o caos e a desonra
Em não poder mais trabalhar
Vem a fome e o desatino
Os olhos marejados do menino
E o pai em desespero
Sair a pedir caridade
O vírus é reimoso
É triste e tem a coroa do mal
Traz morte e clamor
Onde passa deixa seu rastro
Lamento e indignação
E o homem acuado e preso
Prisioneiro em sua pobre casa
Se contamina mais veloz
Fazendo da fome seu algoz
Lamento da dor e penúria
No canto da casa triste
Cheia dos seus e de fome
Vendo o mal que se consome
Bate na porta sem compaixão
Mas o estado é quem gera a dor
O apelo e o adeus
Assim, crie leitos!
Pague bem ao dotô!
Valorize a enfermagem
Crie “ar” e menos dor
Faça da história um nome
Com honra sem malversação
Traga de volta os respiradores
Que comprados
Nunca chegaram não
Faça a abordagem precoce
Salve vidas! Não diga não!
Pois detrás de cada homem
Há uma família, sonho e gratidão.
Não deixe o tempo passar
Gaspeando na contramão
Pois é no tratamento precoce
Que salva vidas sem contestação
Senhor governa a dor
Faça seu dever de casa
Use a verba já chegada
Com serenidade e amor
Pois o povo dentro de casa
Morre mais rápido, só e com imensa dor
E a cada um que se vai
Falta o alento e sobre saudade
Se teu louco e mal resolvesse
Estávamos bons e seguros
Salvos e com vida
E tu ainda vens tocar na mesma ferida?
Do fique em casa e não saia
Se sair a culpa é sua
Enquanto o dinheirovaga
eterno feito a lua
E tu que me diz fique em casa
Nós a espera do feijão
Eu em minha alugada casa
Enquanto tu em sua mansão
Minha casa é pequena
Maior é minha esperança
Nos dois cômodos além deu
Tem minha esposa e as crianças
Os primos chegaram de São Paulo
A tia com a mudança
Pois na falta de emprego
Um ajuda, outro arrancha
Senhor governa a dor
Deixe o palácio e o jato
Venha de carro conhecer cada canto
A cidade, o campo e a dor
Visite cada município do estado
Escute e anote o clamor
Do povo que já passa fome
Esperando alívio para sua dor
Escute a barriga roncado
A dor da fome do sofredor
E as contas sempre chegando
Sem luz pois esta
Até a Enel já cortou
Já vivo louco e mal
E este tal de lockdown
Faz mal, muito mal
Se o mesmo resolvesse
Já tinha passado com a tal primeira onda
Lockdown seria bom, mas para os seus
Os meus são muitos e sem sustento
A cada boca sem sorriso
Casa pequena e cheia de lamento
Pois na ideia que tu persistes
Perdi emprego e o sossego
Fecharam o comércio
A indústria e a bodega
E a justiça inda cega
Quer prender quem sente a dor
Soltando os meliantes
Escravizando com terror.
Soldadinho do Ara-Ari-Pe
Treze de Março de Vinte Vinte e Um
Estado de Graça do CARIRI.