Estações...
Lá estava, a velha plataforma acinzentada, cabisbaixa com seus trilhos reluzentes. Reluziam, emitiam gritos estridentes sob o peso dos cargueiros abarrotados de minério, ou cidadãos sérios... Em suas paragens, o tempo os poliam, como a mim...
Era ainda criança, nada entendia de andanças, da vida, de trens, de idas e partidas. Ali conheci, o telégrafo, os sons cegos das estações, nada diziam aos meninos céticos que teimavam em retrucar: “Barulhinho besta, preferível o fio do telefone. Ao menos, ouve-se a voz de quem está do outro lado...”
Ando ouvindo sons do passado, risos da adolescência - estação em que conheci o primeiro amor. Tudo se transformava, o corpo, as mãos suadas, faces coradas e a cabeça, que, perambulava pelas nuvens dos meus treze anos... Foram tantos sonhos, despertos apenas na primeira estação do desengano... Assim conheci o quanto doía uma partida. Parti, a vida seguia, reservava outras estações, outros cantos.
A estação permaneceu ali, parada no tempo, também seu telégrafo... Enquanto eu, passo por várias estações. Parto, vivi novas viagens, novos cantos e desencantos, sem entender, por que temos que perder para crescer... Perdi o viço, galguei o monte dos anos, ganhei experiências o escalando.
A vida é bela, embora corra nos trilhos, entre ganhos e perdas. Aos poucos volto à estação, nunca estacionamos... Sigo em frente, adolescente, criança...Semente...
Ema Machado. 11/03/2021