Deise Zandoná Flores

Vestida de Ar

 

Vestida de ar, varre a amplidão, a poesia,
da discrição à penumbra, à neblina, ao ocaso;
escondida, astuta, nas entrelinhas, guardado
o baú de caminhos e de embriões abortados.

Vestidos de ar, amores abandonados,
da lira de Apolo, pelo doce som, ungidos,
guardados pela Memória no cômodo dos esquecidos;
já atingiram qual coisa de etéreos
e, em um tempo sem tempo, de sagrados.

Vestidas de ar, a voz e a forma:
qual coisa da poesia gosta; qual outra de mim discorda.
É uma odisseia encrespada: da Fama despida;
da Terra maldita, abrigada em choupana.

No sítio da Metade, o seu todo é o equilíbrio
entre o caminho iluminado e a vã esperança.


do livro: AFRODISIA - DA ESPUMA AO OLIMPO
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