Elfrans Silva

O CISNE AZUL E AS FRUTAS DO SHIMUL

 
 
O CISNE AZUL E AS FRUTAS DO SHIMUL

Aposentado, e com baixo salário
Sobrevivendo de modo precário
Fui trabalhá pra mudá minha sorte
No Mercado Livre achei um Catraio
Corrí a buscá, no lado paraguaio,
Pensando viver de pesca e transporte

Publiquei no grupo do Zap Zap
Que frete agora, seria o escape
Dei nome ao barco de Cisne Azul
Não demorou para vir a mensagem
Carga de fruta, na primeira viagem
Dum sítio em Cotia, do amigo Shimul

Falei o meu preço honrei a amizade
Ele explorava...que barbaridade!
Estava difícil, pra fechá num valor
Laranja, mamão, goiaba e pitanga
Pra me judiá uns mil quilos de manga
Cobrei adiantado, veja oqu\'ele falou:


-\"Se tu é o senhor do Leme,
assuma o timão e não geme.
No anúncio exigi experiência
um esperto em pilotar nau
Se tu já me vens aposentado,
vou lhe compensar com sardinha,
e economizo no bacalhau
Velho lobo do mar,
cujos ventos alísios me trouxe
Responde sem enrolar:
sei que conheces de mar:
Que me dizes da água doce?
Quero sossegar na vida
Vamos montar um entreposto
no vale do Paraíba?
Sei que o amigo tem
experiência de além- mar
Mas com o peso da idade
melhor não se aventurar
Não me responda agora,
Mas pode pensar primeiro
Já me vejo no \"Rio Paraíba\",
na chalana com o timoneiro\".

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Eu pressenti um calote adiante
Lhe respondi com resposta bagual:
- Experiências só tenho de vida
A àgua, por si só, conduz essa nau
Dispenso sardinha por conta devida
Mas posso pensá no bacalhau.
Combinado o frete, meio por cima,
No mesmo dia me pus a velejá
Cheguei no sítio e sem muita prosa
Meio que sózinho tive que carregá
                        >>>>
O barco sacudia de dá tremedeira
E ele falava igual papagaio
Fingia escutá, levei na brincadeira
Mas eu temia perder meus \"cascaio\"
Resolvi perguntá bem desconfiado
Se vivia de frutas ou tinha trabaio
Pois tinha um tipo de desocupado
Se eu desconfio, acerto e não faio
Sou tipo de homem experimentado
Tentar me enganá, eu pico e retaio
A sua resposta foi só papo furado
Demagogia, igual texto de ensaio:

-\"Entre Lorena e Guará,
faremos o entreposto
Evitaremos o escambo,
ganhando grana à gosto
Importante na vida, amigo,
É não esmorecer com a lida
Montaremos uma barraca
Na cidade de Aparecida
Em Guará conheço um moço,
Dono de um mercadão
Namora com dona Carminha
De sobrenome Galvão
O que acha senhor do Leme?
Noto que a carcaça treme,
diante de tal situação\".
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Naquelas arturas, claro que tremia
O sol tava a pino, quase meio-dia
Não ofereceu café, ou pedaço de pão
Por Deus implorei pra comê um mamão
Olhou de vesgueio, cortou em fatias
Percebi que seria a comida do dia

Anoiteceu, atraquei em Guará
Fomos procurá o tal mercadão
Tomá banho, jantá e repousá
Na casa da dona Carminha Galvão
Nessa noite contaram muita história
Moacir de Brito, o pai, bom ancião 
Dona Carminha, a mãe valorosa
E havia na casa um outro irmão

- \"Outrora no Rio Paraíba do Sul,
(Isso contaram na hora da janta)
Homens comuns e pescadores
Pescaram da água a imagem da Santa\"
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A noite passou e bem de manhã
Após o café trouxemos a carga
Encaixotadas e empilheiradas
Estando arejadas não se estraga
A tarde fizemos o caminho de vorta
De madrugada estava em Cotia
Após o café mostrei-lhe a nota
Pedi pra acertá antes do meio dia

Pensei qu\'ele fosse pagá no cartão
Pois debitado era mais garantido
Quando lhe vi de caneta e talão
Pensei: oque importa é ter recebido
Me deu um papel que tava anotado
\'Pouso na casa, café, leite e pão
O café no pai, e oque\'\'u tinha jantado
E não esqueceu de cobrar o mamão\'

No fim eu pensei: ainda há de sobrá
Chegando em casa praguejei o freguêis
Olhei bem o cheque, pensei lhe matá
Acreditem ocêis! Predatou pra 6 meis!