Ele, um homem;
Ela, um anjo…
Conheceram-se sob o luar, sob as pétalas
De uma flor já há tanto esquecida…
Ele, vestido de cavaleiro;
Ela, em alvíssimas vestes…
Olharam-se, e um fogo brotou em seus corações,
Meros espelhos de um mundo em constância…
Ele, ferido pelo inimigo;
Ela, abençoada por Deus…
Amaram-se tão brevemente e tão longamente
Quanto as últimas ondas da encosta do Paraíso…
Ele, mero escravo da carne;
Ela, suma serva do espírito…
Já era de manhãzinha quando a chuva veio
E acordou o uno casal com beijos suaves,
E toda a Natureza regozijou frente ao verdadeiro amor:
Animais de todos os cantos cantaram, encantados;
Flores nasceram, flores novas e velhas, flores de vida e morte;
Árvores acariciaram os ventos estrangeiros, perdidos e nômades;
Estrelas ressurgiram das cinzas noturnas, soturnas e caladas;
O Sol e a Lua se uniram num eclipse cromático nunca antes visto;
Os Céus e a Terra se tocaram através do horizonte da nova aliança…
Talvez nem mesmo toda a poesia que existiu, existe e existirá
Seja capaz de recriar apenas um segundo da dolorosa despedida deles…
Mas toda mente que vive e sabe distinguir o bem e o mal
É capaz de imaginar a súbita soltura de uma mão da outra, do homem e do divino…
Quem soltou primeiro?
Isso não importa!
Pois um coração que busca as flores nas trevas sabe sentir o cheiro do reencontro,
E só isso já basta...