Gustavo Guedes Araújo

A esperança me leva ao tédio.

Olho pra frente, tudo é tão incoerente;

olho pra trás, são os mesmos problemas sociais;

pro lado, todo mundo anda muito bitolado;

pro outro, se preocupam apenas com seus couros;

pra cima, qual seria a minha sina?

pra baixo, pra ver se aquieto o facho.

 

Nada tenho nada a dizer

e tudo é bem enfadonho;

o que mais posso fazer

para ter algo que sonho?

 

Noite e dia tenho o tédio!

Pra essa sensação, não parece haver nenhum remédio;

queria poder voltar ao ensino médio,

lá, pelo menos, não optava pelo arredio.

 

Sensação trivial de mente e corpo: letargia;

Aquilo que me faz exultar: melodia;

Queria ter uma vida bem mais sadia;

Mas como viver bem, se minha própria esperança me insídia?

 

Verso livres são escolhas que tomei por desafogo,

mas que alívio sentir, se nem em sonhos eu folgo;

preciso desiludir, mesmo sem nada me empolgo,

não posso mais me permitir, viver de alegrias que não gozo.

 

Ainda tenho alguns que amo, sim;

alguns compartilham o mesmo amor por mim;

embora outros, nem sempre estejam afim.

Julgam me um sonhador como se fosse algo ruim.

 

Meus contemporâneos só espalham ódio;

pois é o meio que enxergam pra chegar ao pódio;

Como podem vocês, se iludir com nióbio?

Infelizmente, da alienação, é só mais um episódio.

 

Eles pedem o tempo inteiro para eu me alinhar.

Como convencer os gados que aceitam o ordenhar?

Como ter a esperança de ver o mundo redesenhar?

Àquelas distantes lembranças, que não param de definhar.