Olho pra frente, tudo é tão incoerente;
olho pra trás, são os mesmos problemas sociais;
pro lado, todo mundo anda muito bitolado;
pro outro, se preocupam apenas com seus couros;
pra cima, qual seria a minha sina?
pra baixo, pra ver se aquieto o facho.
Nada tenho nada a dizer
e tudo é bem enfadonho;
o que mais posso fazer
para ter algo que sonho?
Noite e dia tenho o tédio!
Pra essa sensação, não parece haver nenhum remédio;
queria poder voltar ao ensino médio,
lá, pelo menos, não optava pelo arredio.
Sensação trivial de mente e corpo: letargia;
Aquilo que me faz exultar: melodia;
Queria ter uma vida bem mais sadia;
Mas como viver bem, se minha própria esperança me insídia?
Verso livres são escolhas que tomei por desafogo,
mas que alívio sentir, se nem em sonhos eu folgo;
preciso desiludir, mesmo sem nada me empolgo,
não posso mais me permitir, viver de alegrias que não gozo.
Ainda tenho alguns que amo, sim;
alguns compartilham o mesmo amor por mim;
embora outros, nem sempre estejam afim.
Julgam me um sonhador como se fosse algo ruim.
Meus contemporâneos só espalham ódio;
pois é o meio que enxergam pra chegar ao pódio;
Como podem vocês, se iludir com nióbio?
Infelizmente, da alienação, é só mais um episódio.
Eles pedem o tempo inteiro para eu me alinhar.
Como convencer os gados que aceitam o ordenhar?
Como ter a esperança de ver o mundo redesenhar?
Àquelas distantes lembranças, que não param de definhar.