Helio Valim

No mormaço do entardecer

 

A chuva banhava, ao entardecer,

mais um dia de intenso verão.

Parecia querer amortecer

o denso calor daquela estação.

 

A água fria lavava e escorria,

levando a poeira do tempo

acumulada na cumeeira

de qualquer telhado sem beira.

 

Na casa simples, o telhado de madeira,

sem laje, era só goteira...

Pingando, molhando, transbordando...

Memórias, em ondas, se afogando.

 

A chuva passa, o mormaço abraça,

a tarde calada que sofre encharcada.

Tentando enxugar as perdas contadas

sobra a esperança, agora, desabrigada.

 

Esperança quase solitária

afaga, enquanto abriga solidária,

o desalentado que busca entender:

por que no mormaço do entardecer?