Ainda que o ar que te envolve
Seja o vetor das pestes e moléstias que me aniquilam;
Ainda que a brisa que te traz o frescor de eternas primaveras
Seja a tempestade que me lançou para uma morte interminável;
Ainda que a luz que tudo te revela ao entrar por tuas janelas
Seja a treva onde tateio em vão neste labirinto;
Ainda que teus dias radiosos e férteis
Sejam minha miséria cotidiana;
Ainda que tuas lágrimas, tristes ou alegres, 
Não tenham o sal de minha lembrança;
Ainda que teu riso de canto de pássaro 
Nem de longe mencione meu nome;
Ainda que a saudade de um passado em que não havias
Seja uma tralha que carrego como fardo inerente à minha existência;
Ainda que teus abraços cheios de ternura 
Estejam repletos do vazio que me engole... 
Aquele semblante que um fim de tarde veio trazer, 
Que um olhar de esfinge enfeitou;
Aquele brilho atravessando a fria escuridão de minha alma 
Conseguiu por um instante abrandar as dores de minhas mortificações;
Sufocou com uma pálida alegria 
Os incontáveis e inconsoláveis soluços 
Que estou cansado de emitir... 
Fez-me amar ainda mais
O desprezo, o ódio e a solidão
Que o universo me legou 
Na simplicidade daquilo que me negou, 
Ao atirar-me na complexidade de um sentimento 
Que é a lápide a me cobrir neste vale de padecimentos... 
A profundidade do céu claro e límpido das tardes de maio
É a medida de tudo que me falta;
É a extensão infinita de uma mágoa 
Tão presente quanto intangível. 
As estrelas, tão vivas, no escuro firmamento das noites frias de outono
São acenos de uma tristeza admirável e bela.
Seu brilho, de todas elas, é como o teu olhar
Emitindo desprezo e mistério em todas as direções, 
Arremessando-me aos confins do nunca sonhar, 
Do sempre fenecer no brilho de teu espectro