Helio Valim

Precisamos de metáforas

 

Observo pela janela do meu olhar perdido

a  marola da cidade à beira-mar

onde o cotidiano se desenrola desmedido

e seres urbanos não parecem amar.

 

Entre florestas, córregos, morros e o mar

derrama-se impiedosa mancha urbana,

aterrando águas e matas sob obstinado luar,

devastando biomas de forma vil e profana.

 

A dor e o sofrimento da cidade torturada

parecem hipérboles, mas são literais,

presentes em sua rotina transtornada,

pelo cotidiano de urbanoides amorais.

 

Precisamos de metáforas, aves livres a voar...

Sem elas não há janela para o perdido olhar,

não há rosto para sorrir ou luar para amar...

Apenas, literais, espaços a sufocar.