castelos de areia,
chuva e vento,
angústia, sempre aguda, perfurando o estômago.
a instabilidade, a insegurança, a penumbra...
a promessa do calor confortável da familiaridade,
dissolvida junto ao orvalho da madrugada.
o vão entre a perda e o que ainda não era.
a busca pela habitação inversa,
aquela que nos habita e adentra nosso mundo,
que cabe no espaço das ausências.
adensar na possibilidade do estável,
gestar a esperança do amor,
enquanto as paixões riem e olham com desprezo.
respirar nostalgias e manhãs mornas
jardins onde plantávamos sonhos translúcidos
a súplica involuntária e desesperadora da união perpétua,
a longa via sem retorno.
período de estranhezas novas
dolorido parto para o mundo do pertencimento
vieram momentos de euforia,
nas arrumações, preparações, cenários, idealizações, inocências, missas...
estava puro novamente, ou apenas disfarçado...
as flores internas murchavam e não entardecia.
o líquido exótico do sentido havia secado,
procurava-o em todas as garrafas vazias
a nova promessa: lançar-se novamente à busca
novamente o sentido se abria,
o vento tocando o balão no deserto alaranjado
um leve sopro de felicidade vindo das brisas do infinito
perdidos nas sendas da manhã
na duração compartilhada das incertezas eternas.
quartos antigos, risos autênticos, alma em todos os cantos...
renascia para dentro.
então a morte rondou de perto,
desta vez, anunciada
sentia o frio na espinha da vida cindida, das metades da metáfora
o beijo, antes abrigo, tornou-se a confirmação do desamparo.
mergulho na umidade densa do desejo,
que denuncia o desespero.
pouco a pouco, sobrou o nada
a promessa da transcendência em horizontes que não mais via.
me dis-traía.
mas a neurose do controle do incontrolável, do tempo,
da perecividade da vida,
ocupava a porosidade da existência.
o que antes escondia,
escancarava a estranhos desconhecidos,
e me presentificava nessa ausência.