Jose Fernando Pinto

Utopia

Hoje me distraí olhando pela janela e de repente como se visualizasse uma tela, percebi que não pensava em nada, eu não queria nada, e como se desligado de uma tomada eu era apenas um ponto no universo. Não havia canção, nem decoração, diálogo não havia, nenhum soluço eu ouvia, era apenas uma janela e lá fora não havia alegria.

 

Não, eu não estava meditando, aliás, eu estava paralisado e meu olhar fitava o nada. O nada vazio, o nada entorpecido de dor, desamor, dos lamentos sem direção, sem cor, apenas o nada, no escuro, na imensidão da noite, o nada, nem a lua ou açoite.

 

Outrora eu diria que é cansaço, que meu corpo de repente se aquietou com um laço, mas hoje não é o labor, não é a dor, é apenas um dia sem cor que preenche o espaço. Lá fora nada que chame minha atenção, aqui dentro apenas as batidas do coração, ritmo lento, e por um momento parece até que eu saio do chão.

 

Hoje me distraí olhando pela janela e de repente eu estava voando, aqueles passarinhos que todos os dias anunciam a aurora, voam comigo agora. Juntos nós dominamos o espaço, como se feito de aço eu pudesse chegar ao mais alto céu, como um pássaro ou um herói de chapéu.

 

Hoje me distraí olhando pela janela e de repente percebi que eu tenho tudo que preciso, algumas coisas até em excesso, como o próprio juízo que por tantas vezes me manteve cativo. Agora não fico mais, porque descobri que posso voar, posso saltar da janela e compor a aquarela com a minha poesia, eu posso fazer meu carnaval quando desenhar minha fantasia, e o mais importante, eu posso acreditar e com isso realizar o que para muitos é apenas utopia.

 

Jose Fernando Pinto