\"Quando eu olho pra Deus, eu vejo o vazio
Quando eu olho pra Deus, enxergo um buraco de minhoca
Onde todos que chegam perto dele, são imediatamente sugados
Sugadas as suas vidas, seus pensamentos, suas singularidades, suas perspectivas.
E então, se tornam clones de Deus.”
Nilo Makori
Ao acordar, se olhou no espelho e viu outros iguais a ele.
Se lavou e trocou suas roupas, não as reconheceu, mas supôs serem suas.
Não reconheceu sua casa, nem sua rua, “eu moro aqui”.
Não sabia o que fazer no seu trabalho e ainda assim, bateu a meta do dia.
Ao retornar para casa, não percebeu que eram os seus pés que o guiavam e num instante se deparou em frente a um templo, mas ele não sabia rezar e assim, conseguiu “pregar” a palavra e “libertou” almas.
Ao fim do culto, voltou para casa.
E antes de pegar no sono, orou mais uma vez para um Deus que nunca conheceu, mas sabia bem como era, e pensou: “eu sou um filho de Deus” e logo adormeceu.
Ao acordar, se olhou no espelho e viu outras iguais a ela.
Se lavou e trocou suas estranhas e familiares roupas, foi até a cozinha e preparou o café, seu marido logo acordaria, precisava deixar tudo pronto para que ele se alimentasse antes de ir trabalhar. Lavou a louça, arrumou a casa, a sua casa, “eu moro aqui.”
Aquela rua, não parecia ser conhecida, mas ela não se perdeu, pegou aquele desconhecido ônibus e desceu no desconhecido ponto.
Ao chegar na casa da patroa, se pôs a limpar, não errou os cômodos, nem o que devia cozinhar. Não sabia nada e ainda assim, se saiu bem, como de costume.
Ao fim do dia, não se sabe como, mas ela já estava no templo, de joelho rezava a um Deus desconhecido, por pessoas desconhecidas, por assuntos desconhecidos, que lhe eram conhecidos. Ao fim, cumprimentou a todos os desconhecidos conhecidos e retornou ao seu lar.
Em casa, foi possuída por seu desconhecido marido e, ao terminar, virou-se para o seu lado da cama e pensou: “sou filha de Deus” e dormiu.
Ao acordar, se olhou no espelho e viu outros iguais a ele...