Hoje não sei sobre o que escrever, então escrevo sobre nada, minhas metas estão paradas, minha vida estagnada, essa dor não é momentânea, ainda escrevo sobre nada.
Minha pátria alienada, minha gente discriminada, minha raça se encaminha para um fim, cujo estopim foi escrito bem antes do plim-plim, ainda assim, escrevo sobre nada.
Doou sangue e suor ao escrever cada palavra, minha alma talvez já esteja quebrada, tudo que encontro são respostas limitadas, e muitos tentam me afastar mais ainda da minha jornada, por isso, escrevo sobre nada.
Não sou poeta, não me considero um escritor, talvez até seja um bom ator, mas acima de tudo, eu sou um sonhador, sofredor de corpo e alma, porém nasci na época errada, então escrevo sobre nada.
Como Van Gogh eu sonho, e como Van Gogh tenho medo de um futuro incerto, medo da não aceitação, e medo da solidão, tento pôr para fora tudo que sinto, ainda que eu não sinta nada.
Apesar de tantas barreiras, agarro meus sonhos com unhas e dentes, por isso ainda estou aqui, lutando dia-a-dia com o demônio que habita em mim, com a força que me impede, até mesmo, de escrever sobre nada.
Criatividade talvez não seja o meu forte, nem gramática, nem carisma, nem jogar futebol, nem cantar ou dançar, meu forte sem dúvidas é sonhar, não, meu forte é sentir, sentir que tudo o que tenho para falar, é nada.
Respeito, no entanto, não entendo estruturas, não consigo me alinhar a padrões, pra que fazer tudo tão certinho? quando o meu único intuito é simplesmente ser entendido e entender o porquê de estar vivo, pra que usar palavras difíceis, quando o meu objetivo é trazer pessoas para perto, e não afastá-las, nada tenho a dizer em relação a isso.
Como vou seguir em frente, quando o caminho que escolhi seguir, foi o caminho que todos ao meu redor decidiram jogar seus entulhos? Como vou continuar sonhando por um futuro melhor, quando a maioria morre de fome, e os que já ganharam a vida até mesmo pra seus bisnetos, não dão a mínima pra isso?
Tudo o que sei é que nada disso é justo, o mundo está sim perdido, mas o Brasil nunca se achou, sim, eu sei, não são meus pseudo poemas ou textos de desabafo ou minhas lágrimas derramadas todos os dias no travesseiro ou os pedidos de justiça a um Deus, que nem sei se me escuta, que vão fazer alguma diferença.
Agora eu deixei de sentir nada, passei a sentir angústia, raiva e inconformidade, prefiro que seja assim, não quero voltar a sentir nada, nem quero mais usar rimas selecionadas apenas para encontrar algum motivo para ter sobre o que falar.
Mesmo que seja sobre nada, é sobre tudo, isso é relativo, é confuso, até pode ser ruim, mas a minha mente é assim, extremamente complicada, embora não tenha nada de complexa, é só a minha mente, e eu sei que a mente de muitos são assim, eu sei que a maioria das pessoas se sentem inconfortáveis com o mundo que vive, mas elas aceitam pois é tudo que tem para fazer, eu sei de tudo isso, mesmo que ninguém fale nada sobre.
Essa é a geração mais fraca, dizem os anciões conservadores, a geração que não lutou guerras, nem passou por uma ditadura, ora, vocês tem internet, na minha época tínhamos que ir nas livrarias para ter alguma informação; na sua idade eu já estava no meu 3° emprego, já estava construindo a minha casa, a minha família, tudo o que vocês jovens querem fazer hoje é curtir a vida boa, mas a vida não é boa, ela é cruel, e você não pode ser feliz aqui, você nasceu pra trabalhar e seu destino já foi escrito por alguém que você nem sequer conhece, embora você tenha a liberdade de escolher o outro caminho, mas se optar por esse outro caminho, você será castigado e excluído pela sociedade, não seja um rebelde meu filho, não lute contra o que está imposto, não escreva sobre suas dores e desejos, não questione Deus, nasça, cresça, estude, trabalhe, reproduza e morra, é tudo que você precisa da sua vida, mesmo que não signifique nada para você.
Apesar de toda a dor que sinto, agora já me sinto menos deprimido, já botei um pouco da minha cota diária para fora, embora eu saiba que amanhã ela voltará para me atormentar, e que eu terei que começar a escrever sobre nada, para, em poucas linhas, escrever sobre tudo.