Hoje eu tive uma recaída. Após quase trinta dias, muito esforço e evitando aproximação, eu fraquejei. Juro que não foi intencional, muito pelo contrário, suportei dia após dia as dores provocadas pela crise de abstinência. Eu tentei juro que tentei.
Não foi fácil pra ninguém, eu sei. A abstinência provoca mau humor crônico, falta de paciência e por vezes, dores quase insuportáveis. Dores na alma, dores que dilaceram o peito. O isolamento foi uma das poucas soluções encontradas, assim como o escuro da noite e o sereno da madrugada.
Hoje eu tive uma recaída, mas eu juro que não foi por mal. Muitas vezes eu chorei outras tantas contive o choro, mas as lágrimas vertidas ou escondidas, suficientes não foram para amparar minha dor. Por isso eu fraquejei, não consegui suportar.
Noites mal dormidas, manhãs que debelavam minha vontade de levantar. Dias e dias açoitado pelo cansaço. Tardes tristes, noites vazias, distância de tudo que causava embaraço. Música alta, filmes na TV, um livro pra ler, mas ainda assim, eu sentia a falta.
Em alguns momentos o silêncio era ensurdecedor, e por mais que eu tentasse isolar meu pensamento, eram gritos que eu ouvia, gritos de desespero, gritos de poesia que lutavam para alçar voo, libertar-se de mim. Por isso eu fraquejei, tive uma recaída, os gritos da poesia não suportei, e mesmo evitando, mesmo fugindo, acabei sucumbindo e estas linhas mal escritas eu desenhei.
Porque hoje eu tive uma recaída, não me abstive de rabiscar um pouco do meu sofrer, pois escrevendo eu posso ler, eu posso ter, eu posso ser. Hoje eu tive uma recaída, e alguns traços de minha vida nestas linhas vou deixar. Gritos de poesia, saudades em demasia, das noites e dos dias que eu passo a sonhar.
Jose Fernando Pinto