Ema Machado

Quando passar a tortura...

Quando passar a tortura...

Ah!

Encolho-me nessa masmorra, passando horas sem acolhida

Sou folha em branco esquecida, ao final de um diário qualquer

Talvez eu viva, talvez, morra. Vivo, tragada pela expectativa

Tudo perdeu a valia. Aquiescer, ninguém quer...

 

Não fosse você, poesia! A banir a insanidade

Juro! Pereceria, entregar-me-ia à loucura

O que em mim ditas, é indelével, domas minha realidade

Sobrepujas desejos, tédio... És remédio, minha cura...

 

Ah!

Hoje a recebi, assim, pura e límpida, dei-te guarida

Elevaste meu olhar, passeavas no céu

Pude compactuar com estrelas, jaziam como eu, esquecidas

E a lua... Parecia sua, não se ocultou em nenhum véu...

 

Quando passar a tormenta, e puder respirar as manhãs

Vou beber-te em antigas palavras, minha sede, de ti não passa

Hoje destilas ternura, manténs minha mente sã

Percorrerei, ruas e praças, acolherei o tempo, sem pressa...

 

Ah, poesia...

Venceremos a tortura...És, minha única cura...

Ema Machado