A saudade mortal, do matuto se apossa
Donde fora criado morando em palhoça
Caipira do Mato, que\'o progresso acossa
Se pega a lembrar que foi um lavrador
Do velho galpão que guardava a tralha
A rês no potreiro ruminando a palha
O velho casebre sem forro nem calha
Do milho plantado no arado e trator
Na alvorada, bem cedo, acendia o fogão
Com lenha picada, assoprava o carvão
O café torrado e a moagem dos grãos
Dá gosto e cheiro, se de pano é o coador
Soltava a malhada na grama verdinha
Ordenhava o leite, bem de manhãzinha
Do balde ao tonel, e nunca em caixinha
Direto da \"fonte\" tem muito mais sabor
Frutas e verduras, produzidas na roça
Transportava levando em sua carroça
De tão madurinhas quase descaroça
Colhidas no dia tem gosto superior
Se banha na praia, mas prefere riacho
Pular do barranco, corredeira abaixo
Na areia é bom, mas terra lhe dá relaxo
Medo não tem, e lhe refresca o calor
No campo é seguro, a tranca é tramela
Ripa dum metro, fecha porta e janela
No filtro de barro a água quase congela
De poço ou de mina, sem cloro, incolor
Pintado em moldura suas fotografias
Dos país e avós, primos, tios e tias
O calendário anual onde riscava os dias
De baile e Sagrados, seja lá oque for
Recolhia os bichos com a tarde findando
Lamparina acesa, o querosene queimando
À noite na varanda vendo a lua passando
Pegava na viola, com alma de cantador
Já o viram chorar, andando pela cidade
Lembrando da roça com tanta saudade
Mas oque o pranteia pra dizer a verdade
É lembrar da cabocla, seu primeiro amor