Por que me chamas poeta?
Sou apenas emoção nas liras de amor
Nos labirintos da saudade, no beijo esperado
do primeiro namorado.
Sou a paixão incontida do primeiro encontro
às escondidas...
No arrepiar da pele ao toque…
No tremor das mãos.
No olhar perdido no horizonte
No arco íris do tempo
Na brisa que a face toca
No marulhar das ondas
Ou na impetuosa tempestade.
Na planta que brota e desabrocha
Vestida de puro linho como disse \"Salomão\"
Da dor que trespassa o coração
Da flecha que o alvo acerta ou não
Cupido malvado, mudando o destino
Da menina e do menino.
De tudo isto minha alma se veste
E reveste meu sonho... minha fantasia...
Por que me chamas poeta
Se pouco na vida eu li?
Disso, tão pouco aprendi
Falta de jeito, objeta!
Livros que eu não pude ter
Sonhos de vida abortados
Ler? Tempo desperdiçado
Tanta coisa a se fazer...
Coisa de desocupado.
Chegou um tempo, afinal
Que, por bem ou por mal,
A poesia me agita
É a canção que da alma grita
Transpondo muros da ignorância...
Do preconceito e intolerância.
O tempo, senhor das horas, dos dias e anos
Na trajetória de minha história
Lançou - me no mundo de versos...
Dos inversos sentimentos que me impelem
A fazer versos, mesmo controversos.
Soneto, me encantava
Pequeno som, perfeito
Abandonado no canto do tempo
Nunca pensei ser capaz...
Um vácuo, uma lacuna
Longo tempo adormecido
Onde ficou o desejo por ela (a poesia)
Num despertar...
Numa aurora que me acorda cá
( sem que tivesse dormido)
Beijou me com feroz desejo
E eu me entreguei
À vontade de ser poeta
De entregar em versos meu sentir
Meus medos e alegrias
Como também a beleza da flor e o vermelho carmesim (cor fogosa de paixões, arrebatando corações)
Ferindo as rimas em mim
Com espinhos sutis.
Falar do azul do céu e do mar
Do brilho das estrelas em desenho constelar
Do pranto do rio em suas águas a transbordar
Do remanso, paradeiro tranquilo
Ou na correnteza levando tudo a eito
Deixando muita dor no peito
No canto suave dos pássaros
Do amor que rege a vida...
A alma inebria e o corpo aquece, num beijo desfalece.
Não tenho, da escrita o dom, não lido bem com as rimas
Tampouco ando num bom compasso.
Não sei o que é estilo...
Não sei o que é ideia ou um sentir exclusivo
Sei apenas que minha alma canta notas de fado
Entoando melodias de amor e saudade, minha nostalgia e melancolia...
Minha alma é refém de uma vontade
Meu intenso desejo é deitar em versos meus sentimentos
E vivo a cada momento, tentando promover
O encontro dos dois seres que me habitam :
Um, que é só emoção, rabiscando versos, pura poesia ;
Outro, é a razão que me puxa das nuvens poéticas
É finca - me os pés no chão.
Por que me chamas poeta?
Não conheço da poesia quase nada
Só escuto os gemidos da alma
Em forma de canção
E tento transformar em escrita os ais do coração.
Não sou poeta, nem tenho pretensão
Sou apenas mais uma viajante da vida
Passageira com bilhete só de ida
Pois que não se pode voltar
O pêndulo vai e vem, mas não volta ao mesmo lugar...
A poesia é só uma das estradas em que estou a passar
Não me chames poeta, eu não sou
Apenas, nalguns momentos, poeta estou.
Edla Marinho
17/12/2020