Claudia Casagrande

Menino potiguar

 

 

Talvez fosse de um abrigo

Um menininho querido

Que em nada foi atrevido

Mas mexeu muito comigo.

 Entre a praia e o mar

Quis dele me aproximar

Mas ele disse baixinho

_Eu não posso conversar.

Corri pra comprar sorvetes

Mas ele disse baixinho

_Eu não posso aceitar.

_Tá vendo aquele rapaz

Vem aqui me acompanhar

As ordens que vem de lá

Eu tenho que respeitar.

Falamos por muito tempo

Mesmo sem poder conversar.

Comprei pra ele os sorvetes

Mesmo sem poder comprar.

Estávamos em altos papos

Quando o moço assobiou

E num instante ele pulou

Saiu correndo e acenou.

Nunca mais eu soube nada

Nem mesmo sua morada.

Em outros dias fui à praia

Mas já não o encontrei

Fiquei entristecida comigo

Porque banalidades falei

Mas não disse ao querido

Que com ele me importei.

Até hoje lembro dele

Peço a Deus que tenha tido

Família e paz no coração

Que não tenha se perdido

Por tristeza ou solidão

E que em qualquer outra vida

A gente se encontre e então

Tenha mais proximidade

Mais tempo e conexão.