Marçal de Oliveira Huoya

Crisálida

Tem hora,
De virar casulo,
Um sentimento nulo,
Um esquecimento de si,
Sorriso que não sorri,
Num espaço 
Que não calculo,
Tempo de murici,
Tem hora,
De virar crisálida 
Hibernação de flor
Uma rosa pálida 
Embaçada pelo dissabor
Em meio a um inverno 
Sem cor
Qualquer coisa é válida 
Se encolher lá no fundo 
Nessa caverna sólida 
Para se esconder do mundo 
Para se proteger de um amor
Ou de uma tristeza 
Ou de uma beleza
Ou do que for
Uma trincheira cálida
Numa ventania gélida 
Com os pés debaixo de um cobertor 
Sua mente atribulada e grávida 
Uma cocção de dúvidas 
Vontades tão vividas 
Experiências úmidas 
Das gotas que derramou
Pingos num imenso vazio 
São todas as dívidas 
Do que nunca conseguiu 
De tudo aquilo que desejou...