Cecilia

OS NAMORADOS DA VOVÓ

OS NAMORADOS DA VOVÓ

 

 

_Vó, me conta.   O Vô foi seu único namorado?

_Foi não, houve outro antes, uma paixão. 

_E aí, Vó, não deu certo?  Você não quis?   Foi ele?

_Nós dois queríamos, muito.  A gente combinava, fazia planos...   Todos achavam que daria casamento.   Mas amor é sentimento mimoso, delicado, quando menos se espera, por uma bobagem...

_Verdade, Vó?   Pensei que o amor era invencível, agüentava todos os repuxos da vida!

_O amor é forte mesmo, suporta quase tudo, até sacrifícios muito pesados.     Mas, ás vezes, por uma coisinha á toa...

_Como foi, Vó?

_Sabe, naquele tempo tudo era devagar.   A gente se apaixonava, levava meses só trocando olhares, recadinhos.   Quando por fim namorava, se encontrava tão raramente que nem conseguia trocar carinhos inocentes... Nunca namorados ficavam sozinhos, só noivos.  

E, para noivar, cada um tinha que conhecer a família do outro,  aprovar e ser aprovado.  Pretendíamos oficializar o noivado na Páscoa.   No domingo de Carnaval me aprontei no capricho e fui conhecer a família do moço.

 Jantar de cerimônia, porcelanas, cristais, receitas de família, pudim de ovos, balas de café.  Gostei deles, gostaram de mim, ia dar certo.   Estávamos radiantes, pisávamos nas nuvens.....

Durante  toda a visita a irmãzinha, uma graça de menina,  me vigiava com o rabinho dos olhos marotos, misteriosa.  Não sei se criancice ou malvadeza,  na despedida sussurrou ao meu ouvido, claramente:

            “Você vai entrar na família, precisa saber um segredo:  Meu irmão faz xixi na cama, todas as noites!”

Na Páscoa conheci seu avô.