Bodas de Esmeralda
Marido, eu conheço você. Conheço bem cada dobra de pele flácida, cada pelinho encanecido, cada pinta nova nas velhas costas.
Conheço a história das suas dores crônicas, e espreito as dores novas, numerosas. Sei o lugar de antigas cicatrizes, e de feridas que ainda sangram.
Lembro-me de batalhas ganhas, e de algumas perdidas; de sonhos realizados, e de outros desfeitos.
Adivinho o seu gosto, e os seus desgostos. Sei ler em cada rápido olhar, em cada gesto fugaz, em cada sutil inflexão de voz.
Mas não sei tudo.
Decorei o mapa do seu corpo, palmilhei os meandros da sua alma, estudei os detalhes da sua história.
Mas não sei tudo.
Depois de quarenta anos você ainda me surpreende, e encanta.
Porque, no corpo antigo mora sempre o mesmo homem.
Os embates da vida só arranharam a casca, e enrijeceram o cerne. Não há rugas no caráter, nem manchas na honradez.
Permanecem a integridade inabalável, a confiabilidade do fio de barba, a coerência entre o pensar e o fazer, a lúcida aceitação das responsabilidades.
Depois de tantos anos, ainda me admiro com a nobreza dos seus gestos. Com a generosidade, a delicadeza.
. Hoje, quando celebramos bodas de esmeralda, só tenho um pedido ao céu que nos governa: Podemos envelhecer juntos, mais um pouco?