Deise Zandoná Flores

Jano

 

Inflama a tua mente e então te derramas
feito uma torrente, brincando de noite
no sol nascente e de aurora casta no poente.

Tua glória são os teus passos;
e os teus cardos, tua história.
És tão madrugada nos teus cabelos
que já nem sabes se o dia de tua vida
finda ou inicia. Brincas de Jano

e o compreendes: olhar para o início
é ver a chegada; chegar ao fim da estrada
é ser novo início.

Viste, no abismo, o ventre de tua mãe
e, na escuridão tenebrosa, a tua semente
a germinar. És o teu próprio breu.

Mergulha no teu deserto e torna-te homem.
O destino do coletivo é erodir o teu nome.
Tua estrada é curta, mas é percurso teu.