Às vezes eu converso sozinho, faço perguntas e as respondo num monólogo repleto de certezas e incertezas, fundado na minha extensa estrada de solidão. Por vezes conversar sozinho é a forma que encontramos de nos enxergarmos como os outros nos enxergam.
Às vezes eu converso com a noite, mergulho em sua escuridão e coloco minha solidão a dialogar com o silêncio da madrugada. Por vezes essa conversa não leva a nada, a noite escura em breve amanhecerá, enquanto eu ciente das minhas limitações minhas agruras e confusões permaneço arredio, passo pelo dia e anoiteço vazio.
Às vezes eu converso com os pássaros, enquanto voam, enquanto cantam, enquanto vivem sem a expectativa do amanhã. Embora os pássaros não demonstrem entendimento naquilo que eu digo, ainda assim parecem ouvir meus lamentos, pois sua resposta é o canto de quem salta do infinito, quem voa livre, e quando voam esquecem tudo e perseguem apenas a liberdade, sua felicidade.
Às vezes eu converso com o vento, o vento forte, o vento leve, o vento breve, aquele que chamado de brisa da manhã arrefece minha tristeza matinal para que eu prossiga e vença mais um dia. Vento sem destino, vento menino, vai e volta sem hora marcada, às vezes intempestivo, às vezes brisa da madrugada.
Às vezes eu converso com a morte, queria entender sua sina, porque é tão implacável, porque faz os outros sofrerem, algo mais que a defina. Nunca tive respostas, parece que a morte padece do silêncio, do mesmo mal que assola a solidão.
Às vezes eu converso com Deus, e nesse instante, num diálogo fascinante, eu consigo ouvir respostas que nunca tive. Mesmo para as perguntas mais difíceis, a resposta de Deus acalenta. Ele mostra a verdadeira poesia da vida, aquela que devemos fazer sem esperar resposta, porque a vida é um livro escrito com sentimentos, os bons são a estrutura que nos mantém, os maus se transformam em lamentos, mas a noite os oculta, o vento os leva pra longe e os pássaros os transformam em alegria a cada amanhecer.
Jose Fernando Pinto