o poema
é o laranja do poeta
prima
eu arrumo a cama
pra você deitar
você deita e rola
e me desarruma
depois você levanta
se retoca, se arruma
pega a bolsa e cai fora
meu corpo sorri
meu coração chora
feed back
ontem, nosso amor,
voltou à estaca zero.
foi dez.
sanitários
sabe desses sanitários
que a gente canta, canta, canta...
até a alma ficar tonta?
pois é, foi num desses
que nossas canções
foram por água abaixo.
involuntário
uma mosca
zumbia e sobrevoava
meu copo de cerveja
não tive escolha
fiz o que devia
fé
onde houver caminhos
que eu leve sandálias
esperteza
meu coração
é um cão adestrado
que aprendeu
pular fogueiras
vez em quando
ele salta sobre mim
receita de poema
abra o vocabulário do coração
reúna meia dúzia de palavras
e ordene-as de alguma forma
que possa dizer qualquer coisa
depois, sirva a humanidade
eterna busca
a lucidez
é uma espécie de espírito
que evoco todos os dias
em vão
noites
há noites
de sono tão profundo
que eu escalo
verdadeiros precipícios
pra poder acordar
amor gástrico
por falar em paixões...
minha vida tem sido
uma diarreia crônica.
ascensão & queda
era até boa de cama
uma, duas, três, tantas
fez fama
num tropeço
seu mundo caiu
sem mundo, sem cama
sem grana, nem quem ama...
rivotril
ampulheta
você foi embora
e deixou
o relógio na parede
o tempo passou
a parede ruiu
o relógio parou
a casa caiu
quando você foi embora...
chica que los parió!
manhã chuvosa
a sua dócil tristeza
alfineta o âmago
da minha débil poesia
— bom dia!
tchau
o tempo pára
a voz se cala
a vida exala
juntas às esperanças
algumas pessoas
deixam a sala
gentileza
o poste
diante minha janela
sequer me diz...
boa noite.
ainda assim,
não consigo lhe ser recíproco.
— boa noite senhor.
sujeira
pus um tapete na varanda:
o tempo passou
e não limpou os pés
por tua espera
por tua espera
as horas passam
minhas pernas cansam
meus cabelos embaraçam
os sinos tocam
os grilos cantam
e minhas esperanças
dançam
por tua espera
medo
tic, tac, tic, tac,
a madrugada no despertador.
toc, toc, toc, toc
ouço passos no corredor
inverno
dia frio
e a tarde se acomoda
por trás da cortina
que a noite cerrou
e as árvores?
bem, estas parecem
bailar
concomitantes
meu relógio
não parou,
chegou ao fim.
meu coração...
idem
fico por aqui.
sorte
bem-aventurados
os sacizeiros,
pois estes
têm duas pernas
paciência
a lua é linda
mas eu já fumei
todos os cigarros
e não há música
ela ainda não veio,
também acabou o vinho
e agora começo...
sentir frio.
sanidade
não pensem
que sou maluco.
mas enfim,
confesso.
ansiedade jamais
quando o amanhecer
parece demorar...
desço ao quintal
com torradas e café,
e fico escutando os latidos
bravamente proferidos
por minhas vira-latas
desastre conjugal
você esqueceu
a panela no fogo
e o meu coração
também queimou
reduzindo à cinzas
minha paz
minha paciência
minha lucidez
meu orçamento
e o nosso amor
jamais esquecerei
comunhão
as lembranças
a saudade
e a música antiga
seu corpinho
o tempo
e a fadiga
você ainda quer briga?
amor tribal
nos encontros
suspiros, suspiros
e mais suspiros
na união
filhos, filhos
e mais filhos
na separação
tapas, socos
pontapés e tiros
inversão
no caderno
o mais recente poeta
que o poema escreveu
relaxe
não vou estar em casa
na hora que você chegar,
mas a deixo toda arrumada
com pratos e panelas lavadas
e cama quentinha perfumada
pra você deitar, rolar, dormir
sonhar, sonhar & sonhar
fidelidades
velando
o meu sono
profundo
gira o ventilador
e o mundo
solitário
andava tão sozinho
que não havia sequer
pedras em meu caminho
outono
a chuva me deixa
encharcado
mas não lava
minha alma
por hoje basta
queridas palavrinhas
durmam em paz
se amanhã não chover
papai do céu deixar
o carro não quebrar
a mulher não brigar
e eu não enlouquecer
talvez tenha mais
beeeijos.
ofício
fazer poesia
é uma crise de espirros
que não cessa
ainda que alguns
fique pelo caminho
viver com você,
por você,
é um pique-nique
com formigas.
adoro!
educação
limpei o tapete
para você
limpar os pés
você meteu
os pés pelas mãos
e eu acabei
limpando o tapete
em vão.